1.11.10

O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música e outros conceitos

O autor cita, ao início de O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, a necessidade dos gregos de admitir a existência de seres superiores à raça humana, os deuses do Olimpo, com o princípio da ordem divina primitiva. Justifica a criação dos mitos olímpicos também, ao citar conceito de Helenismo, referente ao período entre a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 147 a.C.. Neste período a arte era subjugada à vontade dos soberanos e às classes mais ricas, tendo como temática constante na literatura e no teatro os Hinos Épicos, as Idílias, a Comédia Nova e a crítica aos costumes. O produto do “gênio” helênico, era visto como um todo orgânico, “bela totalidade” (schöne Totalität), caracterizada pela unidade de estilo em todas as suas manifestações. Nietzsche rejeitará a pretensão de chegar à essência do helenismo como uma ilusão metafísica, que resulta da falta de sentido histórico.
Os próximos conceitos a serem introduzidos no tema do livro são o de Apolíneo e Dionisíaco, sendo possivelmente os mais importantes da obra. Onde estes conceitos são opostos; sendo Apolíneo racional e ilusionado num jogo dos valores de verdade, beleza e justiça, e o Dionisíaco sendo instinto de força e desequilíbrio colocando em voga os limites dos indivíduos; e ao mesmo tempo complementares na criação da estética universal, onde o mito trágico, nos quais Dionísio é o único herói verdadeiro, estaria representado o irrepresentável, assim como em certos tipos de música; a possibilidade realizada de apresentar e desenvolver a representação e exibição do dionisíaco. Artistas Apolíneos buscavam a simetria, o equilíbrio e a harmonia, e os Dionisíacos encaravam o exagero como forma de exposição nas obras.
Os conceitos de metafísica e metempsicose também são aprofundados após seus estudos, onde, no idealismo metafísico foca nos valores que o regem e propõe a genealogia dos mesmos. Já o julgamento de metempsicose é mais caracterizado pelo eterno retorno, aceitando inclusive conceitos budistas de reencarnação em animais e plantas devido à sua vida anterior, tratado mais profundamente em Assim falou Zaratustra, A Gaia Ciência e Além do Bem e do Mal.
Posteriormente em Ecce Homo o próprio autor conceitua o cristianismo como niilista. Que é a desvalorização e morte dos sentidos, falta de finalidade e de porquê. É dividido em dois movimentos: o positivo, onde revela a falta de fundamentos da verdade, de critérios absoluto e universal; e o negativo, onde declara a incapacidade de avançar, a destruição iconoclasta, e de onde vem o silogismo “Se Deus está morto, então tudo é permitido” de Dostoiévski, baseando-se na consideração de Nietzsche que Deus(no sentido da verdade, de princípios e da moral) está morto. Este, subdividido em dois: o passivo que valores antigos dão lugar a novos, e o ativo que renega todo valor metafísico, gerando assim o vazio existecial onde reina o absurdo e se espera ou provoca a morte.
Também julga a moral kantiana e o aristotelismo como decadentes, e afirma:
O conhecimento, o dizer-sim à realidade, é para os fortes uma necessidade, tal como para os fracos sob a inspiração da fraqueza, a covardia e a fuga da realidade – ‘o ideal’... Eles não têm a liberdade de conhecer: os décadents precisam da mentira – ela é uma de suas condições de conservação
e denomina os fortes e o “dizer-sim” e alegrar-se mesmo nas mais dura provações como dionisíaco. Para Nietzsche o centro do problema estético é o artista e não a obra ou sua contemplação, distanciando-se assim da estética kantiana, onde a chave desta questão encontra-se na contemplação. Para ele, o foco é redirecionado ao artista e à gênese da obra, tendendo mais para um paralelo ao conceito kantiano de gênio do que para a estética kantiana propriamente dita.
Em A Vontade de Potência afirma a arte, como um “evangelho de artista”, indicado para Wagner: “A arte como a tarefa própria da vida, a arte como sua atividade metafísica...”. Referindo-se ao aceticismo que o poeta e músico aderiu, influenciado pela filosofia de Schopenhauer.
Nietzsche considerava o artista um ser estético, pressuposto que invariavelmente não comporta o aceticismo.  A influência da filosofia de Schopenhauer na obra de Wagner, considerada por Nietzsche como prejudicial e foi largamente citada em suas análises.
Em seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia, Nietzsche já enfatiza o alto valor que atribui à arte, considerando-a a atividade mais nobre que o ser humano pode exercer, posto que é constitutiva da existência, da própria da vida, em última instância, de uma ontologia. No livro em questão o objetivo explícito do autor era propor uma política cultural que revigorasse a cultura alemã, tendo como companheiro de empreitada Wagner e sua arte. De acordo com as críticas que faziam, a cultura alemã padecia por excesso de objetividade, por valorizar demasiado o aspecto racional, teórico e científico, emdetrimento dos instintos, das pulsões, do corpo, dos sentidos; por desvalorizar os simulacros em nome da busca pela verdade. Nietzsche adotou como modelo a cultura grega antiga, pré-socrática, trágica e propôs aos alemães de sua época aprender com ela como harmonizar diferentes aspectos da vida, aos moldes do que ocorria nas tragédias gregas, onde as expressões artísticas complementares representadas por Apolo e Dionisio, aprendiam a coexistir. Ao contrário, os gregos antigos, trágicos por natureza, haviam criado a cultura helênica, de base apolínea, justamente porque era aquilo que lhes faltava, era o que necessitavam — quando abundavam em força dionisíaca. Para estes antigos a embriaguez era o seu próprio, era opathos do grego trágico e embebidos nele se relacionavam com a própria existência — por isso eram tão intensos, guerreiros e corajosos.
Para Nietzsche a experiência política ativa e potencializadora da força humana está entrelaçada com a experiência artística, pois somente através da arte pode o ser humano aprender a perceber a sua vida pessoal como parte de um todo, de um tecido social. O autor traça assim o esboço de uma estetização da existência, uma vez que valoriza a criatividade, a singularidade, a imanência, a agnóstica, a vida baseada em valores artísticos de construção e desconstrução — tratar a vida como obra de arte — o que pressupõe a valorização da diferença, da multiplicidade. Nessa aproximação entre arte e estetização, existência e política, Nietzsche lança, o que hoje se denomina por micropolítica: a participação ativa de cada membro atento e questionador na coletividade.

Bayreuth Festspielhaus

A Bayreuth Festspielhaus (Teatro do Festival de Bayreuth) é uma casa de ópera situada no norte de Bayreuth, Alemanha, usada principalmente para apresentações de óperas compositor alemão Richard Wagner. É a sede do Festival de Bayreuth e a meca dos wagnerianos.
Situa-se na Coluna Verde de Güruner Rügel (também chamada "Colina sagrada", pelo wagnerianos), em Batreuth, na Baviera, e foi inaugurado en 1876. Concebido especialmente pelo compositor, para a execução de suas obras, foi um projeto revolucionário. Tem excelente acústica e capacidade para 1.925 espectadores.
A mais famosa peculiaridade do Festspielhaus é o fosso da orquestra, que é coberto, sendo assim, totalmente invisível ao público. Esta foi uma idéia do próprio Wagner, para que o público prestasse atenção no drama no palco, sem se distrair com os movimentos do maestro e dos músicos. Todavia, a cobertura do fosso torna difícil a sincronia entre músicos e cantores. Por isso muitos maestros consideram que reger no festival seja um enorme desafio.



Introdução de Wagner, e sua relação com Nietzsche

(A partir da leitura dor artigo Nietzsche e Wagner: caminhos e descaminhos na concepção do trágico, de Jair Antunes(Doutor em Filosofia pela UNICAMP-SP, Professor de Filosofia na UNICENTRO-PR), publicado na Revista Trágica - 2º semestre de 2008 - nº2 pp.53-70 ISSN 1982-5870.)

Wilhelm Richard Wagner nasceu em 22 de maio de 1813 em Leipzig, na Saxônia, uma cidade onde já haviam vivido diversos outros artistas de renome, como Bach, Schumann, Mozart, Mendelssohn e Goethe. Foi compositor, maestro, teórico musical, ensaista e poeta alemão, considerado um dos expoentes do romantismo e dos mais influentes compositores de música erudita já surgidos. Morreu em 13 de fevereiro de 1883, devido à um ataque cardíaco.
Em 1868, Wagner travou amizade com Nietzche, então professor de filologia na Basiléia, que passou a freqüentar assiduamente a sua casa de Tribschen. A relação com Nietzsche foi muito especial na vida de Wagner, já que Nietzsche era seu fiel admirador e via neste a possibilidade de uma cultura superior, de total afirmação à vida. No entanto, essa relação especial acabou em mútua desilusão, na medida em que Nietzsche passou a desacreditar a cultura como forma de emancipação e perseguir uma ética como estética da existência. Um dos pontos de desinteresse de Nietzsche pela obra do compositor eram os frequentes pontos em comum com a temática e as preocupações cristãs.
A amizade e a admiração de Nietzsche por Wagner findaram-se desde a inauguração do teatro de Bayreuth em 1876. Este teatro, projetado pelo próprio Wagner para encenação de suas peças teatrais, criou várias expectativas em Nietzsche quanto à possibilidade de renascimento da música no espírito trágico pois, para Nietzsche, Wagner era então o principal músico crítico da decadência dos valores modernos e da submissão da arte moderna aos interesses da indústria. Nas obras apresentadas em Bayreuth, Nietzsche constatou a submissão de Wagner ao cristianismo, revelando desta forma o caráter decadente e redentor de sua arte.
Wagner, agora, na década de 1880, representava para Nietzsche não mais a expressão trágica do dionisismo na Modernidade, mas sim o grande redentor do cristianismo na arte ocidental, passando a ser, assim, a principal expressão da decadência da sociedade ocidental.

Revista Trágica: estudos sobre Nietzsche

A Revista Trágica: Estudos sobre Nietzsche é uma publicação semestral do Grupo de Pesquisas Spinoza & Nietzsche (SpiN) e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ), que tem por objetivo publicar artigos originais,  resenhas e traduções sobre a filosofia de Friedrich Nietzsche, escritos por doutores, mestres ou pós-graduandos  do Brasil e exterior. O projeto foi motivado pelo desejo de promover um maior debate entre pesquisadores de Nietzsche, através de um novo espaço acadêmico, democrático e de qualidade.
As publicações foram iniciadas no primeiro semestre de 2008, contabilizando, até hoje, cinco publicações.